os meus poemas
não tratam de coisas importantes
apenas falam de chuva
não sobre a sua natureza
ou por que chove
mas porque chuva
é o que vem nos poemas
(a minha poesia é uma ignorância, 2017)
não posso pedir-te que venhas comigo. nem posso pedir-te que vejas o mesmo que eu vejo. cada qual transporta a si mesmo. também não posso pedir-te que saibas do que eu sei e que todos os dias me acontece desde há muito. repara: estou cego e um cego não pode pedir aos outros que vejam o que ele mesmo não sabe que vê.
ali vivemos
por
um tempo
um
luar em agosto
uma
inclinação das sombras
a
meio da tarde
as
coisas que as nossas mãos
transportavam
a
sacola ao ombro
nas
manhãs de abril
e
nós perdidos entre
as
casas e a chuva
e
depois
de
regresso às árvores
e
aos pássaros
às
noites dos grilos
e
ao prodígio dos vaga-lumes
(azedas e margaridas, 2023)