poesia, Carlos Lopes Pires

terça-feira, 30 de julho de 2019

           (prece por fernando passos)


que ainda há árvores

que não se acabem
as palavras que nos salvam

que haja um gesto
e nele a mão aberta
na outra que te conduz
e leva

e que possas voltar a ver o mar
no lado de fora
das janelas

que cantes

                       (in onde as maçãs crescem, 2020)

segunda-feira, 22 de julho de 2019

ó Deus

criador de todas as coisas
que não conhecem o seu lugar

fabricador do exílio
que há no coração humano

essa ausência que se presta
a divagações sem fim

e que afinal nunca estás
senão na falta que nos fazes

                  (in onde as maçãs crescem, 2020)

sábado, 13 de julho de 2019

mas se tu não estás

como hei de fazer
para encontrar a chuva

apanhar o autocarro
e sair deste lugar

caminhar até que as mãos
te reconheçam
   
                           (in onde as maçãs crescem, 2020)

quinta-feira, 4 de julho de 2019

                       para manuel frias martins

era um poema

e havia tanto dentro dele
que não havia muros
no quintal

era mesmo um mistério

e quando ele abria
as mãos
não eram rosas
nem água
o que lá havia

era outro o nome
era outra a palavra
que lá vinha

e por isso sentava-se
à sua espera

e nunca morria
       
                         (in onde crescem as maçãs, 2020)