poesia, Carlos Lopes Pires

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

              breve meditação em Deus

hoje fui ver os pássaros
do meu quintal

como não chovia

sentei no chão a tarde

levar-me
ao teu coração

terça-feira, 18 de setembro de 2018

venho aqui mãe

para lembrar o quanto
me pesas no coração

nas maçãs nas árvores
nas folhas cheias de retratos teus

e nesta dor que não cabe
e por isso transporto até ao mar

até depois das casas
e dos barcos

e aí respire em silêncio

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

       (poema de amor por pablo)
 
que este amor seja
uma estrela

uma rosa tocada sempre
pela primeira vez

mas intocável

como são os teus dedos
em movimento

e que por mais distante
ainda a mais próxima

e nunca morrendo
mesmo findo este corpo
esta sombra este nome

e por todo o lado viajando
nos teus passos

no teu coração

na ponta das árvores
ou na cor dos pássaros

infinito mesmo em silêncio

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

        (poema para pablo)

o teu coração
seja sempre bastante

e não se contente
com os dias de sol

e recolha então das nuvens
a chuva e os seus desenhos

e deles faça barcos
em todos os lugares que há
nos teus olhos

que sejas sempre menino

terça-feira, 11 de setembro de 2018

pablo disse-me

Deus fabricou a água
fazendo-a

não houve necessidade
nem preocupações

depois ocorreu-lhe
que era bom que houvesse chuva
e criou as plantas os peixes
e o mar

e nada disso estava
em algum lugar
por existir

silêncio era o que havia

e silêncio era Deus


domingo, 2 de setembro de 2018

tudo em ti é silêncio

e o meu filho pablo pergunta
por que não falas
não dizes

nem ao menos um sinal
que seja

e eu digo-lhe
que a tua natureza é essa
sem indícios nem sinais

tu és silêncio