poesia, Carlos Lopes Pires

domingo, 31 de março de 2019

voltamos sempre aos amigos

não importa que se tenham ido
ou que alguma coisa
muito forte
os tenha levado de nós

voltamos sempre àqueles
que nos dão a beber
as coisas que não se alcançam


                   (in a noite que nenhuma mão alcança)

abracei-te
e fiquei sem ti

não sei onde andarás
agora

e abraço a chuva

e sempre à chuva
na terra nos mares
nas estrelas e nas noites

onde estarás patitas?


sexta-feira, 29 de março de 2019


                       (a Luís Vieira da Mota no falecimento do seu irmão)

quando um amigo sofre
viajo com ele

escondo me no seu coração 

uma brisa
uma estrela 
um abraço

uma coisa que não sei


sexta-feira, 22 de março de 2019


não te conheço

embora há séculos
ouça falar de ti

às vezes
pouso as mãos na areia
e é como se te falasse

e faço desenhos nas casas
para que possas caminhar lá dentro

ou então sigo as aves
imaginando que vou ver-te

mas nenhuma gaivota
pode encontrar-te

é um total e deserto
este abandono

há séculos aqui sentado

e é já quase
como se fosses tu

domingo, 17 de março de 2019

                  para o Luís Mourão

o meu amigo faz anos

e então vou levar-lhe
um presente

algo que tenha utilidade
e não se gaste

que não seja fútil
nem difícil de guardar

que possa estar sempre
a seu lado e lhe seja leve

uma coisa que por mais
se use nunca se gaste

vou levar-lhe um nome

domingo, 10 de março de 2019

                               este poema é dedicado ao meu querido amigo antónio nunes
 
uma canção
antes que anoiteça

uma lembrança
que me proteja da ausência

uma mão
pousada noutra mão
e me livre dos desertos

um gesto que me toque
por dentro

um amigo

sexta-feira, 1 de março de 2019

a amizade
não é uma coisa
que venha com o tempo

é uma agricultura
de plantar semear cuidar
mas tem coisa de mistério
e floresce
onde não há

então agora explico

os amigos
têm o dom da abundância
fabricam os segredos da água
indicam o misterioso rumo às aves

os amigos
fazem crescer as árvores

                                 (In a noite que nenhuma mão alcança, 2018)