um amigo disse-me
que num charco
é impossível haver barcos
mas eu
que sou filho da infância
digo que mais difícil
é haver paz
lá fora
não posso pedir-te que venhas comigo. nem posso pedir-te que vejas o mesmo que eu vejo. cada qual transporta a si mesmo. também não posso pedir-te que saibas do que eu sei e que todos os dias me acontece desde há muito. repara: estou cego e um cego não pode pedir aos outros que vejam o que ele mesmo não sabe que vê.
eu cresci
a brincar com longe
nos insectos nas ervas
e na lua
longe e eu
fazíamos longes
de tudo
e mais alguma coisa
quando
me tornei poeta
quis mostrar aos outros
que longe
é múltiplo do perto
e assim
os meus filhos
são múltiplos de mim
até perder de vista
há também
a fábrica do tudo
mas hoje
não vou falar dela