poesia, Carlos Lopes Pires

sábado, 15 de janeiro de 2022

encostei

o meu coração ao teu

e pensei que era um só

 

e desde então há muito

que vivo no teu coração

 

ou talvez sejas tu

 

ignorantes os dois                 

tão cegos portanto

 

indo e vindo de toda a parte

que onde um vai

o outro está

 

este tão grande desconhecimento

da impossibilidade

 

até que a morte

esclareça o mistério

sábado, 1 de janeiro de 2022

uma vez alguém perguntou ao poeta da ignorância

 

 

escreves para alguém?

sim, para ninguém

 

e onde está ninguém?

está ausente

 

e como é?

não sei

 

e como sabes que está, se é ausente?

a sua ausência impõe-se a tudo

 

é então uma ausência presente?

não. é de uma completa ausência.

tanta que me ocupa em todo o lado. é um sem-lugar

 

mas esperas um dia encontrá-lo?

Já encontrei

 

não entendo…

também eu não

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

                              aos amigos


 

hei de deitar-me

a teu lado

para que nunca te vás

da minha vida

 

assim

como quem morre

pela primeira vez

 

e ainda não conhece

a chuva

 

nem das rosas

o abandono


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

nunca chegamos

a saber grande coisa

sobre a vida

 

há sempre a suspeita

de algo a caminho

 

uma queda

um azar

 

um imprevisto

que por dentro

seja

 

o fim do mundo

terça-feira, 9 de novembro de 2021

sábado, 6 de novembro de 2021

esta manhã

 

vi Deus

passear entre as árvores

do meu quintal

 

antes de ir-se

bateu as asas

e as rosas floriram

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

no meu quintal                      

 

há um vaga-lume

com o teu nome

 

é para que estejas

sempre comigo