Mas o
que é um amigo? O que é essa coisa chamada amizade? Que espécie de sentimento é
este, que nos faz crer tanto nos amigos, confiar neles como se donos fossem de
poderes especiais? Partilhar com eles alegrias, dores ou sofrimento? Que magia
há nos amigos, pergunto-vos, que nos faz crer que tudo neles é transparente e
luminoso?
Ao
longo da minha vida tenho assistido a alguns factos muito misteriosos. Um amigo
tem poderes curativos sobre nós, prolonga-nos a vida, protege-nos da chuva
quando nos dá a mão ou toca um ombro. Se estamos tristes ele chega e com uma
palavra impronunciável cura-nos da tristeza. Inexplicavelmente, os amigos têm o
poder de saciar-nos da fome ou da sede. Quando estamos exaustos, tão cansados,
vêm junto de nós e sorriem, e então vamos por onde vamos. Os amigos fazem-nos
crer em coisas que só existem para eles e partilham-nas, repartem-nas com as mãos,
e tornam-se nossas também.
Os
amigos não precisam de cartas de recomendação, de juramentos ou palavras de
honra. O que dizem serve uma vez e para sempre. Aos amigos perdoamos o que não
se perdoa a ninguém, pois aos amigos outorgamos a bondade dos defeitos, o
direito à imperfeição.
Os
amigos não mentem: contam-nos versões da verdade. Aquilo que nos outros é
mentira, nos amigos é força da imaginação. É que aos amigos liga-nos algo que
não nos liga a ninguém: o segredo da amizade. Porque a amizade é uma coisa de
magia, que purifica, compreende, transforma. A amizade cura.
Um amigo jamais esquece
outro. Poderão passar anos, mas nem a morte pode separar-nos de um amigo, pois
ele ficou connosco desde o primeiro abraço, desde a primeira vez que tocámos o
ombro um do outro. Quando nos disse a palavra autêntica.
Amigo
é aquele que espera de mim humanidade e comigo partilha a sua. Não espero de um
amigo que seja santo ou flutue acima dos telhados da cidade. De um amigo espero
apenas a bondade do seu pedaço de humanidade; o perdão, a compreensão pelo meu
pedaço de humanidade. Que seja para mim uma metade e eu a outra que sou para
ele. E que seja de todos o mais próximo de mim. Que aceite os meus erros e
fraquezas e me retribua com o seu abraço de imensa grandeza. E por isso digo
que a amizade é uma coisa abençoada. Não é algo que se compre, se troque, se
venda ou peça emprestada. A amizade é uma dádiva, e não tem peso ou medida. A
amizade não é calculista. Não depende disto ou daquilo. Ela é simplesmente o
que é, pois a amizade é inocente, e só o que é inocente perdura.
A
amizade não se mede por palavras. Existem amizades silenciosas, recatadas,
amigos que nos tocam de longe ou com simples gestos verdadeiros. A amizade não
precisa de explicações. Ninguém sabe de onde vem, de que matéria é feita, mas
todos sabem reconhecê-la quando chega. Não precisa de adjectivos, nem de justificações,
e por vezes cai dentro de nós como um sentimento que nos torna muito maiores
que a nossa própria vida. Se não temos amigos vivemos e morremos sozinhos.
E no
dia da nossa morte, amigo seja aquele que pronuncia o nosso nome no silêncio do
seu coração, e o diz como se perdesse uma coisa de valor incalculável.
Os
amigos fazem crescer as árvores.
a noite está presente
ResponderEliminare clara mesmo sem lua
porque se sente a amizade
há um amigo presente
a dizer-nos coisas