poesia, Carlos Lopes Pires

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

               Poesia (do mesmo livro, em resposta a António Nunes)

Essa flor tantas vezes nomeada em vão,

casa, esquina, portal e rua,
segredo escondido nos teus olhos
tão de ervas e brancura,
aí, onde nada fecha nem cerca
o coração,
o coração deste homem,
o teu, o dele,

sem nada mais que seu,
pequeno, mortal,
juntando ossos, galhos,
água e barro modelando o verme,
o insecto, o voo
desta criatura cega e muda
na procura da verdade aberta a
todos os caminhos,
a verdade ignorada que

as suas mãos buscam
nessa flor tantas vezes nomeada

em vão.
                         (In Em cada um, 2001)

1 comentário:

  1. Nas minhas deambulações etéreas
    sintonizei uma emissão
    cuja origem
    só pode ser um mundo diferente
    dos muitos em que nós outros
    julgamos acreditar

    e que alguns de nós
    até olhamos e dizemos que gostamos do que vemos

    só que não conseguimos descortinar
    o caminho
    rumo a algo que sentimos inalcançável

    Demais sabemos que há outros mundos
    que nos parecem cada vez mais distantes
    à medida que reparamos neles

    mas que talvez estejam
    à mão duma simples flor
    duma maçã acabada de colher
    das pedras do caminho
    dos detalhes do meu quintal

    duma gota de chuva
    nas areias do deserto
    ou no fogo

    redemoinhado pelo vento

    nada será em vão

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