poesia, Carlos Lopes Pires

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

 (em Quadrazais)


 

 I

 

Tudo sossegado no meu país.

As rosas voltaram a estar quietas.

Os estorninhos regressaram hoje à grande tília.

Já não passam carros de fora

nem se ouvem palavras estrangeiras.

Algumas nuvens fazem lembrar a chuva,

o sino há uns dias que não toca.

Uma lua muito grande cresceu sobre a noite

e os castanheiros do meu país.

 

Vim trazer-te o coração.

 

II

 

Uma luz ao fundo da noite,

uma rosa aberta,

uma desertidão,

 

uma estranha calma

no coração.

 

III

 

Inumeráveis rios da alma,

inumeráveis nomes.

Carne e pedra, voz e eco,

 

habitação total.

 

 

IV


Eu nunca ando só no meu país.

Ando sempre eu e as casas,

as giestas, os moinhos, os carreiros,

os meus avós e tios, as lendas e

os contrabandistas e a lua e

o Cirinéu e os lobos e a tia Chau e os castanheiros

e a Praça e o Cimo e a Calle Fundeira

e o Vale e a S. Eufêmia e o S. Gens e o Vale da Ussa

e a Serra da Malcata e o ti Zé Choino e o ti Jagão

e a Escaleira e a Lameira e o rio Côa

e o Lameirão da Ribeira e a Igreja e a Grande Tília

e a fonte e


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