poesia, Carlos Lopes Pires

quinta-feira, 8 de julho de 2021

não quero substituir-te

e por isso quero que me faltes sempre

 

não preciso da tua foto

ou de uma coisa qualquer redonda

que me recorde de ti

 

quero a tua falta

 

e quero partilhá-la com as árvores

e com as tardes de chuva

 

e quero que me faltes todas as noites

e não em algumas noites

 

não aceito esquecer-te

tal como não aceito substituir-te

 

caminho e hei de caminhar

como quem procura o impossível

através das coisas e das rosas

 

porque realmente do que preciso

é da tua falta

 

e se tiver de chorar

hei de chorar

 

e que se abra também

e repetidamente

uma ferida em tudo

o que não estás

 

e seja tão infinitamente grande

ao ponto de ser invisível

para todos quantos desconhecem

 

a tua ausência

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