Um poema dirige-se, antes de mais, não àquele que o lê (o leitor), mas
àquele que o escreveu. Interroga-o. Interroga-o a partir do seu silêncio. E esta
interrogação provoca-lhe um estranhamento e um sobressalto. Estranhamento e
sobressalto são essenciais para o carácter encantatório que caracterizam o
poema digno deste nome. E porque o encantamento abre o silêncio, não o fecha, ele inaugura no mundo uma presença, mais precisamente, a daquele que anda lá
fora na chuva. Aquele que nunca dorme.
Mas quem é o poeta? Digo que poeta é aquele leva o poema consigo. Aquele
que o leva numa algibeira ou talvez no coração, e que o leva para onde quer que
vá, o transporta e carrega. E onde quer que vá o edifica no meio dos outros
homens, como a palavra que traz em si uma iluminada revelação. O poeta é, pois,
um estrangeiro. É estrangeiro, porque essa é a condição daquele que carrega o
poema: aquele que é estranho a si mesmo
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